Quarentena 2.0

 De novo aqui.

Há algum tempo que deixei de vir aqui. Não tinha cabeça, não sabia sobre que assunto escrever, não sabia se queria escrever ou para quê.

Agora estou aqui outra vez. Voltamos ao confinamento, estamos fechados há um mês e a vida continua.

Estou em casa há um ano, oficialmente. No ano passado, por esta altura, estava a ir terminar a minha licenciatura nos Açores, deixando a minha família e os meus amigos para trás. Uma aventura, dizia eu.

Depois, o Covid. Regressei a casa, continuei as aulas online e terminei o curso que quis a vida toda. Desanimada. Frustrada. Cansada.

As coisas melhoraram no Verão; o Covid recuou um pouco, deu-se as férias e eu tinha um plano: candidatar-me no Mestrado de Biologia Marinha. Outro sonho de miúda.

Não entrar foi tirarem-me um chão. Por um lado era bom, a faculdade era bastante longe de onde vivo, tinha de me mudar e o Covid voltara a intensificar-se. A minha família temia por mim, pela minha saúde e bem-estar e ficaram aliviados por eu não ir. Por um lado, eu também.

Mas o sabor de falhar é amargo e comigo não foi diferente. Não tinha mais planos. Não sabia o que fazer, quando, como. As mãos estavam atadas por toda a situação do Covid e eu continuei em casa, sem saber o que fazer.

Arranjei algumas coisas. Aulas de Espanhol, para melhorar o currículo. Aulas de Escrita Criativa, que infelizmente não apreciei. Apostei na minha própria escrita, desenvolvendo boas histórias e partilhando-as com o público virtual, recebendo um bom feedback por parte de pessoas que não conheço. Apostei em mim, buscando forças para não me sentir arrebatada por não ter um plano. Inscrevi-me numa Pós-Graduação, algo que me interessa e que irá melhorar o meu currículo.

Uma nova oportunidade surgiu, um voluntariado que sempre quis fazer e nunca tinha tido oportunidade. Linces-ibéricos. Três meses a ver aqueles seres fofos, lindos e muito perspicazes, uma oportunidade única que nunca havia tido.

Não fui selecionada de novo. Mais uma vez, o sabor de falhar. Amargo, pesado, enchendo a cabeça de dúvidas e inseguranças. Mais uma vez, o pensamento positivo de que o Covid está pior que nunca, a dificuldade que teria de conciliar a Pós-Graduação com o voluntariado, as coisas boas. Ainda assim, o sabor a falhar é amargo.

De novo, estou sem plano. Vivo um dia de cada vez, confinada, rodeada pela minha família, o namorado por videochamada, os meus animais de estimação felizes por terem a dona com eles. Nisso, foi bom. Graças a este ano parada, aproximei-me ainda mais dos meus bichos, conhecendo-os como ninguém e criando uma ligação especial com eles. Graças a este ano, desenvolvi a minha escrita, partilhei-a e estou cada vez mais convicta do meu potencial. Aprendi algum Espanhol, embora não seja lá muito boa.

Não foi tudo mau, apenas difícil de gerir, difícil de aceitar e difícil de ser positiva. Foi para todos, sei disso.

Aqui, hoje, fica o meu desabafo e a certeza de que tudo irá correr bem.

Estou bem.



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