O Conto da Voluntária
"Estou
abraçada à minha mãe.
Um
abraço dura uma eternidade quando se trata de despedidas.
Sábio
é aquele que sabe sempre aproveitar um abraço, assim não sofre tanto no momento
de dizer adeus à pessoa que amamos. Não custa tanto aceitar que podemos nunca
mais sentir o calor da nossa mãe quando desfrutamos dele todas as outras vezes
que a abraçamos. Quando sentimos um abraço em vez de só dá-lo sem sentido,
sabemos o que vamos perder quando já não tivermos com a pessoa e sabemos que
demos valor, que foi bom enquanto durou e que nunca mais nos vamos esquecer.
Vou
sempre lembrar-me da sensação de abraçar a minha mãe. Também vou sempre
lembrar-me do abraço do meu pai e do homem que amo, mas o da minha mãe é
especial. Este abraço envolve-nos por inteiro, até chegar-nos ao coração,
aconchegando a alma numa redoma de amor. Posso estar do outro lado do mundo,
nunca me esquecerei do abraço da minha mãe.
Está
na hora de embarcar, a voz dos altifalantes já me alertou mas não nos separou.
Consigo sentir o medo que a aflige por estar a ir para tão longe, imagino as
mil e uma coisas que a afligem. Depois de tudo isso, consigo ler nela o
orgulho, o amor, as saudades antecipadas.
-
Prometo que volto, mãe. Amo-te muito.
Não
sei se volto. A vida num país em guerra é um tesouro precioso num mar de morte.
Sei que vou salvar muitas vidas, irei cumprir a missão altruísta que escolhi.
Tenho fé que volto, sentimento que partilho com a minha querida mãe, que sorri.
-
Também te amo, filha. Estou muito orgulhosa de ti.
O
peito enche-se de felicidade. Embarco, de malas e bagagens, rumo à minha
missão.
O
outro lado do mundo espera-me..."
Escrito por mim para o Concurso Nacional de Escrita Criativa de 2018
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