Desabafo De Amor
"Eu amo-me."
Era isso que a rapariga queria pensar quando se olhava ao
espelho. Desejava com todas as forças apreciar com o devido valor os seus
lindos olhos, o seu cabelo rebelde, a inocência própria de quem é bonito e não
sabe. No entanto, as cicatrizes que nunca desapareciam completamente, fruto de
brincadeiras de criança e da sua natureza desastrada, incomodavam-na; as pernas
que ela considerava gordas incomodavam-na; pequenos defeitos gigantescos aos
seus olhos incomodava-na.
Ao seu lado, o rapaz encarava-a. Olhava-a com adoração,
apreciando a beleza que ela não via. O sorriso doce, as curvas suavemente
sedutoras, os olhos vivos e profundos. Raramente olhava para as suas
cicatrizes; adorava as suas pernas; adorava-a. Aproximou-se dela, rodeando-a
com os braços morenos, em contraste com a pele de porcelana dela. Os olhos de
ambos encontraram-se no espelho, adorando-se em silêncio. Sorriram.
- Tu és perfeita.
Ela corou. Num impulso, tentou tapar o corpo exposto, não
que ele já não o tivesse visto, não era isso.
- Não sou.- respondeu-lhe num sussurro, virando-se para
ele- Sou bonita, apenas isso.
Num gesto doce, o rapaz virou-a de novo para o espelho,
forçando-a a encarar-se, a adorar-se. Falou-lhe da profundidade dos seus olhos;
falou-lhe do sorriso que amava mais do que qualquer outra coisa no mundo;
falou-lhe das suas curvas, que o encantavam e desnorteavam; falou-lhe dela, só
dela, tal como ele a via.
E ela via o que ele via. Com calma, com amor. Com verdade.
No fim, fechou os olhos. Respirou fundo, sentindo as suas
inseguranças evaporarem-se a cada expiração.
Abriu-os e encarou os olhos brilhantes. Ela amava-se. Iria
dizê-lo em voz alta. Era a verdade.
- Eu...

Comentários
Enviar um comentário